quinta-feira, 20 de agosto de 2009







POMBAL, MINHA TERRA QUERIDA, DEDICO A VOCÊ CADA CONQUISTA DE MINHA VIDA.


Acabo de ler a matéria "Tradição Religiosa Secular na Festa do Rosário", no site O beabá do sertão, fazendo vir a tona todo o amor que sinto por minha querida Pombal, cidade que nasci e que não esqueço um só minuto.

É de vital importância a preservação desta tradição, pois a Festa do Rosário representa a força de um povo que durante séculos carrega a esperança de dias melhores e diante de tantas dificuldades, mas com grande devoção ainda acredita no milagre da fé.


Vivo em uma região sem cultura própria, pois é composta de pessoas de todo o Brasil, uma verdadeira missigenação de idéias e atos culturais, sem identidade própria e nós de Pombal, a exemplo de todo o nordeste temos os nossos próprios hábitos e costumes culturais.


Ao ver as fotos da procissão da Guarda do Rosário, fiquei com o desejo de voltar a minha querida Pombal e participar de tal evento e principalmente a Grande Procissão do Rosário, no domingo. Pois não importa onde estejamos, Pombal continuará a ser a PÁTRIA dos que nela nasceram, sendo que eventos como a Festa do Rosário, faz com que sintamos orgulhos de manter viva a chama da cultura de um povo.


Não se poderia falar da Festa do Rosário, sem falar no Padre Solon Dantas de França, que durante muitos anos com sua voz forte e imponente esteve conduzindo a mesma, a PADRE SOLON DANTAS DE FRANÇA as homenagens deste pequeno filho de Pombal, que reconhe todo o seu apoio dispensado a Pombal.

Peço a Virgem do Rosário, que permita-me poder voltar a sua casa e lá aos seus pés agradecer tudo que ela como mãe de todos os pombalenses tem nos dado. Participando ainda dos maravilhosos e lindos momento de confraternização e descontração, onde filhos de Pombal se encontram e dividem conversas, brincadeiras e acima de tudo matam saudades. Festa do Rosário é mais que um momento de partilhar alegria, é momento de demonstrar a cultura, pura, de um povo que deve ser passada as gerações.

Desejo voltar a Pombal e apresentar as minhas filhas os Pontões, Reizado e Congos, que com carisma e alegria, não abatidos sequer pelas ações duras da vida, deixam de demonstrar o orgulho e encanto de suas atividades.


Fonte: Eudézio Cardoso Monteiro






COM OLHOS DE TURISTA...

Tem uma coisa que eu nunca entendi: que Nossa Senhora do Bonsucesso seja padroeira da cidade e não Nossa Senhora do Rosário, que é quem dá nome à festa que mais tem badalado Pombal. Outra coisa: a Igreja do Rosário me parece mais bonita do que a Matriz do Bonsucesso, sempre um belo monumento que, segundo se diz na língua pombalense “foi construída pelos índios”.

A Capela do Rosário que passa o ano praticamente fechada com funcionamento somente aos domingos, perde para a Matriz nos dias normais, mas vira o altar de adoração durante estes nove dias de outubro enquanto a outra, relegada ao desprezo, fica fechada neste período e, nas suas proximidades instalam-se as barracas mais pobres, as mais “profanas, aquelas cujos freqüentadores são os homens simples, os que vão tomar cachaça com lingüiça e farofa de sardinha, “matutos” que vêm dos sítios exibindo suas aberrantes camisas xadrez e calças vermelhas, “bordóis”, “cenouras”, ou “abacates”. São homens que se afastam do grande centro da festa  que fica mais abaixo  justamente para não misturarem-se aos grã-finos.

Não conheço a origem. Não em que ano começou, nem como teve inicio. O certo é que a Festa do Rosário  ainda que, nestes últimos anos, tenha “perdido a graça”  é uma tradição secular que mantém acesa a sua chama no coração daquele povo, ou das pessoas de outras cidades que já tiveram a oportunidade de conhecê-la. É como se essa festa fosse a razão de ser de Pombal; é o evento anual em que a história tem registrado grandes acontecimentos na vida dos indivíduos e da sociedade  como casamentos, crimes, visitas de personalidades ilustres ou passagens de artistas famosos.

Mas isto não me parece tão relevante ainda: é apenas um detalhe que ilustra bem essa dualidade interiorana que nos deixa sem resposta a vida inteira. O que acho importante, e oportuno neste momento, é chamar a atenção para um aspecto que, como todo pombalense que morre de amores pela terrinha em que se criou, me preocupa bastante: a tal “modernidade” sobre um festejo antigo que, em determinada época me parecia a magia da cidade.

Só vim atentar para este detalhe quando, em 1980, vim morar em João Pessoa e aqui conheci nossa Festa das Neves. Uns meses antes, todo mundo falava e eu achava mesmo que essa festa aqui na capital era o equivalente da Festa do Rosário em Pombal.

Ledo engano, que me decepcionou completamente e me fez perder, também todo o encanto daquilo que eu já tinha na “festinha” de lá. A Festa do Rosário de Pombal, como diria o escritor Graciliano Ramos, é algo que precisa ser visto “ com olhos de turistas”.

Aqui, ao contrário de Pombal, não era (e não é) todo mundo que sai de casa para ir passear no meio dos parques, beber nas barracas e comprar roupas novas para exibir-se em público. Em outubro, Pombal goza do privilégio de entrar em contato com o mundo e é nessa época que os cofres dos lojistas engodaram. Esse contato se dá pelo que a cidade recebe de gente de fora  hoje, aliás, talvez não seja tanto, mas posso garantir que, na época em que vivi por lá, tinha gente que vinha de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Durante as última três noites, as casas ficavam fechadas porque todo mundo ia para rua, todos de roupas novas, todos com roupas diferente, porque se alguém se defrontasse com outro cujo figurino fosse o mesmo, um dos dois voltava para casa morrendo de tristeza. Já presenciei uma cena, ainda na minha infância, de duas moças que, pelo simples fato de estarem com roupas idênticas, disputaram, no par-ou-ímpar , a condição de quem deveria voltar. Quando deu-se o resultado, vi a derrotada voltar para casa chorando, enquanto a vencedora ria e, ainda por cima, tentava ficar com o namorado da outra.

Vejam, pois, a que ponto chegavam, e tenham uma idéia de como as famílias se entucavam nas ruas, de como as casa ficavam fechadas e não se via um único aparelho de TV ligado. Hoje o quadro mudou, mas a tradição permanece. É ainda nessas três noites, lá em Pombal, que os temíveis ladrões de galinha se aproveitam para pular os muros. Era nessas três noites que muitas meninas( virgens), engravidavam por trás dos monturos das casas e de lá fugiam com o respectivo namorado, geralmente para o sítio de um parente, onde ficavam acoitados até o entendimento das duas famílias pela consumação do casamento.

O sexo era a glória por trás daqueles monturos, sobretudo nos anos 70, época em que “abafavam” as calças boca de sino e os rapazes cabeludos. Como hoje já tem motel na cidade e os amores não são mais proibidos, monturos silenciam sob o luar de outubro e os ratos, atentos ao barulho das difusoras dos parques, trafegam à beira dos córregos enquanto as largatixas sobem tranqüilos nos muros em que os casais se ralavam-se.

Falta dizer que é nessas três noites que a Rede Globo de Televisão , se dependesse de Pombal, estaria fatalmente falida. Afinal são as três noites mais esperadas do ano e tudo que ocorre ali, se tivermos o cuidado de olhar com “olhos de turistas” de Graciliano Ramos, nos parece o bastante para se fugir do trivial dos acontecimentos normais. Finalmente essa festa resgata, a seu modo, alguns elementos da cultura nordestina como os Reisados, os Negros dos Pontões, os Congos, as feiras entulhadas de povo e vendedores de folheto, bonecos de barro, artesanato, tudo o que se possa imaginar!


Dada a nossa crise, é triste de ver os pombalenses que residem em João Pessoa não terem condições, às vezes, de viajarem pra lá nesta fase do ano. Alguns dizem que estão acostumados; que já não fazem tanta questão; que a tradição se enfraqueceu e chegam até a equiparar o acontecimento com o que ocorre aqui na Festa das Neves. Sabemos, porém, o quanto lhes fazem falta os leilões de galeto, o ritual dos pontões, os pagadores de promessas, o almoço no Grande Hotel e o banho de rio na ponte do Areal, no poço da panela e os anúncios das películas no cinema de Galdino e até as raparigas do rói, o bafo de cana de Parrela, as pitadas de humor de Zé Bonitim, as mentiras de Raulino( recentemente falecido), sem esquecer os conjuntos musicais que vêm cantar no Pombal Ideal Club e o reencontro com os velhos amigos no famosíssimo Bar Centenário, onde tem acontecido histórias que são de ouriçar os pêlos da nossa saudade.

Tudo que tentei dizer é muito pouco. A festa do Rosário, pelo encontro e o potencial de uma tradição que tem marcado a vida dos pombalenses. É motivo de orgulho e material para páginas infindáveis. Como falei no inicio e repito ,tudo ali é magia e tem o poder de nos retirar destes dias tão atribulados pelos mesmos problemas. Não tem nada de religião — este é um outro aspecto que prefiro, que surja alguém para falar em meu, lugar. Também não me reporto ao “profano”, é outra característica à parte pra dor de cabeça das beatas e do vigário. Procuro é me conduzir pelo que ali tem de fantástico, de poético, porque, todas às vezes que falo da festa, há algo que me fornece as imagens de um grande circo, eu mentalizo as criaturas românticas e gostosas com seresteiros, sanfoneiros, cantadores de viola, bêbados, prostitutas, namorados e donzelas bonitas com vestidos estampados... o que me leva a ignorar, por instantes, todas as coisa desgastantes e comuns que fazem parte do dia a dia.

É o meu parecer.

Fonte: Tarcisio Pereira






FESTA DO ROSÁRIO E O PARQUE MAIA: SONHO DE TODO MENINO DE POMBAL – PARTE I

Jovem Assis era meu Padrinho de Crisma. Na verdade ele teve um namoro com uma das minhas tias e, como tudo indicava descambar para casamento, os dois foram convidados por meus pais para esta tarefa. Um das exigências da Igreja era que os padrinhos formassem um casal, afinal, padrinhos precisam acompanhar o crescimento do afilhado, de preferência juntos.

O destino, no entanto, não fora consultado e havia traçado outro caminho para eles. Minha madrinha só veio a se casar vinte anos depois, e com um outro homem, já o meu padrinho morreu, acho que 30 anos depois e aos 60 anos, ainda solteiro. Dizem que ele nunca se casou para não ter que dividir seus bens, resultado de heranças de família. Há no entanto, outras versões.

Nos anos 60 Pombal era uma cidade pequena, e era comum as pessoas se encontrarem nas ruas, igrejas, comércio e outros locais públicos. Eu era do tipo que, ao encontrar um tio ou padrinho dez vezes por dia, dez vezes eu tomava a bênção. A intenção era aventurar uns Cinquenta centavos de cruzeiro, que era guardava em um “minhaeiro” para gastar com os brinquedos do Parque Maia. As crianças da Rua de Baixo passavam meses sonhando com as luzes coloridas do Parque Maia.

Com Tonhinho da bodega surtia certo efeito: vez por outra um pão com creme ou um punhado de bolacha peteca ou de tarecos caiam em minhas mãos, mas, moedas nunca. Porém, Tonhinho da Bodega era padrinho do meu irmão mais velho e não meu.

Com Jovem Assis, se eu tomasse a bênção a ele quatro vezes por dia, e isto acontecia, as quatro vezes ele dizia a mesma coisa: “Deus te abençoe. Dinheiro só na Festa do Rosário para você rodar na Roda Gigante”. Razão por eu acredita na primeira versão, quando se fala do motivo dele ter morrido solteiro.

Chegada a Festa do Rosário, mês também do meu aniversário, ele ia lá em casa e me dava uma moeda de Cinquenta Cruzeiros. Isso aconteceu, da minha mais remota idade, até meus 12 anos. Houve vezes que ele mandava a moeda por meu pai, com a recomendação seguinte: “É pelo aniversário e para ele brincar na Roda Gigante do Parque Maia, que já está na cidade”. Não me lembro de outra recomendação.

Entre os quatro irmãos, eu era o mais novo e também o único com dinheiro para brincar no Parque Maia, o que fazia de mim uma criança bastante assediada, palavra que na época não existia no nosso vocabulário.

Chegado o mês de Outubro os caminhões com os equipamentos do Parque Maia adentravam triunfante na cidade Pombal. A noticia corria rápida pela cidade, de forma que o descarregamento dos caminhões já era uma atração para nós moleques, que deixávamos as estripulias no Rio Piancó em segundo plano e íamos assistir, do descarregamento dos equipamentos até a armação do último brinquedo.

Das noites seguintes até o ultimo dia da Festa do Rosário, não havia nada mais importante na cidade. O colorido das duas Rodas Gigantes, as Canôas ainda com tração humana, o trem elétrico e o apoteótico Carrossel, com seus cavalinhos, patos, Carruagem de Cinderela e outros atrativos, eram os motivos de passarmos os doze meses seguintes angariando fundos, seja de que forma fosse, para fazer parte daquela história. Afinal, minguem queria ficar de ouvinte das muitas histórias do Parque Maia que seriam contadas nas rodas de amigos. Quem brincou, quantas vezes e em quê, era o que diferenciava a participação de cada moleque na Festa do Rosário.

Para os adolescentes, rapaz e moças com hormônios a flor da pele, era a oportunidade da primeira namorada, que poderia vir através dos recados das difusoras do Parque Maia. Para os adultos era a cachaça na parte “baixa” e jogatina nos bingos, roletas e dados de Dodge, Mané Paletó e Dom Xicote. Mas, para nós moleques, não havia outra coisa senão os brinquedos do Parque Maia, daí cada centavo ser tratado como um tesouro, guardado por doze meses á espera daquele momento, daí a nossa busca constante pela soma de mais e mais moedas.

Fonte: Jerdivan Nóbrega de Araújo






FESTA DO ROSÁRIO E O PARQUE MAIA: SONHO DE TODO MENINO DE POMBAL – PARTE II

O aparelho doméstico dos sonhos de todo morador da Rua de Baixo, nos idos dos anos sessenta era o Rádio. De forma que este desejado aparelho era tratado com as merecidas honras, ocupando na sala um lugar de destaque.

O da nossa casa era um “ABC Canarinho, a Voz de Ouro”, em baquelite , na cor verde claro, que tinha até “roupa” para protegê-lo da poeira. Lembro-me que o nosso rádio “vestia” uma capa feita em tecido branco. Na parte frontal haviam bordados, caprichosamente feitos a mão, onde se lia o nome “Rádio” e mais a frente um Canário Amarelo a cantarolar em um galho. Do seu bico saiam notas musicais para que não houvesse dúvida da marca, uma vez que o ABC era ponta de linha, funcionava a pilha e só era vendido nas Casas Bandeiras. As Loja Paulistas vendiam o Philco que era grande e só funcionava a energia.

Logo pela manhã Diasa, pai dos Radialistas Otarcilio e Zé Hilton Trajano, passava de casa em casa, onde já era freguesia certa, anotando o Bicho que viria correr ás Quatorze horas e quarenta minutos, hora esta em que todos os rádios da Rua de Baixo estavam sintonizados na Rádio Alto Piranhas de Cajazeiras. O locutor “cantava” em código o resultado do Bicho do dia: “M de maria, A de Antônio, C de Carlos... e por ai vai. Só os mais letrados tinham o código anotado em cadernos, assim, descifravam o resultado final.
Era comum logo pela manhã os amantes do Jogo de Bicho que passavam para tomar cachaça nas sombras das ingazeiras do Rio Piancó, anunciarem aos gritos os seus sonhos, fazendo previsões de resultados.

Numa desta feita, Biró de Onofre gritou para seu Godô: “Hoje é Pavão nem que a vaca voe.” Ao final daquela tarde Diasa passou na casa de Godô e entregou para ele um pacote de dinheiro. Naquela época não havia risco de sair nas ruas contando dinheiro. Diasa ou Clóvis, outro anotador de Bicho, fazia questão de paga em domicilio aos felizardos acertadores do Bicho, assim ainda caia-lhe uma gorjeta.

No mês seguinte eu recebi a minha moeda de Jovem Assis e pedi ao meu pai que apostasse no Pavão. A intensão era multiplicar o meu presente e assim brincar mais nos parques da Festa do Rosário. Meu pai não gostou da idéia. Segundo ele, jogo era coisa de gente grande e eu não tinha nada que andar por ai apostando. Naquela tarde Diasa foi até a nossa casa e entregou um pacote de dinheiro nas mãos do meu pai. Acho que deu vaca. Eu teria brincado as sete noites no Parque Maia, pensei! Ou será que deu Pavão?

Vida ruim de menino pobre, já com doze anos, viciado nas Matinês de Tarzan do Cine Lux e nos brinquedos da Festa do Rosário que aproximava-se. O sonho de rodar no Carrossel de luzes coloridas, de me arriscar na “montanha russa” que veio pela primeira vez à Pombal ou de jogar uma moeda entre as pernas da boneca "Terezão", e ouvi-la cantar "Baile da Gabriela" e "Como tem Zé na Paraíba"; acertar um tiro no umbigo do Pelé para fazê-lo chutar a bola e assim ganhar um prêmio...tanta coisa a fazer!

Pedi ao meu pai que fizesse um carrinho de mão para eu pegar feira. A incumbência de fazer ficou por conta de mestre Lauro, que era Carpinteiro e tinha uma marcenaria no prédio que foi do meu avô, vizinho ao Edifício Maringá. A marcenaria também era um lugar dos desocupados jogar conversa fora, enquanto mestre Lauro trabalhava.


Quinha, filho de Zuza Nicácio dono do Armarinho Imperial, local onde realizavam-se, nos anos sessenta, bingos de utilidades doméstica, observava o trabalho de mestre Lauro, quando ele percebeu que estava escrito na caixa que mestre Lauro desmanchava para fazer o carrinho, a seguinte frase – Maçã: made in argentine – Pergentine, 15 unidades -. Ele enfiou a mão no bolso, pegou uma moeda e falou: “Caba de Félix, vá ali no Barraco de Zé de Lau e jogue tudo no Jacaré. Se acertar, a metade é seu para você rodar na Roda Gigante até vomitar.” Olhei para o meu pai, como não houve censura da sua parte, o que não era comum em se tratando de jogo de azar, fiz o mandado.

Naquela mesma tarde meu pai me informou o resultado do bicho. Sai nas carreias, encontrei Quinha no Bazar Imperial, muito bem sentado. Cobrei a minha parte do prêmio, como ele havia prometido na naquela manhã. Ele se negou a dividir o prêmio que, por direito, também era meu e, assim meu sonho Parque Maia acabou mais uma vez.

Naquele ano Jovem Assis não mandou o dinheiro do Parque Maia. Também não mandou nos anos que se seguiram.
Se um dia eu voltar à Pombal eu vou fazer duas coisas: Cobrar de Quinha a minha parte no Jacaré, e depois, se ainda existir o Parque Maia, vou roda na Roda Gigante até vomitar, como disse Quinha de Zuza Nicácio.

Melhor, não. Acho que não tem a mesma graça.

Fonte: Jerdivan Nóbrega de Araújo






A FESTA DO ROSÁRIO: O BREGA COMO REFERENCIA DA REJEITADA!

A música transmite alegria, tristeza, paixão, lembranças e outros sentimentos que tocam a alma do individuo. Ela inebria. Independente de raça, costume, credo religioso e outros apetrechos que possam existir, é transcendental ao nosso ser.

A música nos transporta da realidade para o mundo da fantasia, ela nos faz calar para ouvir a voz do coração. A música é opcional: Ela é encontrada em diversos gêneros e ritmos e tem suas multi-variações encontrando guarida no sentimento das pessoas.

O estilo musical brega, nasce com profundidade da nostalgia e tem suas raízes no coração de alguém, que em muito das vezes, não sabe compreender o que se passa consigo. Talvez quem sabe, a falta de um companheiro (a), amar sem ser amado ou mesmo estando à procura de um amor para dividir a sua dor, envolvimento místico de alma e canção na magia da melodia que encanta e embriaga.

A Festa do Rosário de Pombal há cerca de 40 anos atrás, tinha na sua parte social o entretenimento do Parque de Diversões Maia que além de oferecer várias modalidades recreativas, como Roda Gigante, Cavalinhos e outros atrativos, através de sua difusora transmitia os recados de amor acompanhado de canções românticas e apaixonadas, onde os enamorados ou aqueles que estavam prontos para conquistar alguém, passeavam pelo centro da festa ouvindo em alto e bom som, aquilo que lhes era comunicado através da difusora do Parque; isso ficou no passado.

Quanta falta fez a animação do Parque Maia a tradicional Festa do Rosário. Talvez em razão disso, em 1988, Nestor Nunes, Sergio Paulo, Pedro França e Galdino Mouta, se encontraram em plena Festa e tiveram o pedido negado em vários locais para ouvirem uma fita na qual continha músicas do estilo brega. Foram aceitos somente num local bem afastado da festa, na barraca de Mariquinha de Jaca em frente ao Banco do Brasil.

Daí nascia “A REJEITADA” que a cada ano motivados pela curiosidade da história da fita rejeitada, aumentava cada vez mais o interesse em ouvir as músicas nela gravadas, tornando-se depois a Festa mais popular brega da região durante os festejos do Rosário. Este ano marca a sua décima nona versão.

Por certo tempo a realização da Rejeitada era ao ar livre, no largo da Sorveteria Chic, de uns anos para cá passou a ser realizada nas dependências do Pombal Ideal Clube, tão grande é o número de pessoas, tendo sido uma vez estimada em quase duas mil.

Vários cantores do estilo romântico brega já passaram pela REJEITADA. Ivan Peter, Roberto Muller, José Ribeiro, Carlos André, Natan Rossi, Bartô Galeno, Carlos Alexandre Júnior, Genival Santos e muitos outros.

Este ano a tradicional Festa Brega de Pombal apresenta: Domilson e Banda, Rivaldo e Teclados e como atração principal o cantor goiano Lindomar Castilho, dono de uma voz empostada e inconfundível e de uma interpretação ímpar, um dos reis do bolero de 60 e 70, atingiu o topo das paradas em 1965 com a canção “Ébrio de Amor”. Outros grandes sucessos vieram depois: “Coração Vagabundo” “Somos Dois Sem Vergonhas” “Eu vou Rifar meu coração”, “Você é Doida Demais” este bolerão até hoje, é o maior sucesso de Lindomar Castilho e foi tema de abertura do seriado Os Normais, da TV Globo.

De uma simples brincadeira de quatro amigos, por se sentirem rejeitados em virtude da opção pela música brega, ainda hoje, apesar das dificuldades financeiras, a Rejeitada –Festa Brega do Sertão, de um sonho tornou-se realidade e a cada ano seu público aumenta.

Qual será a razão do grande sucesso da REJEITA?
1º- Será o que disse o Cantor norte rio-grandense, Gilliard em uma entrevista: “O lado romântico é a grande paixão do brasileiro”
2º- Ou será o que disse em um email que me foi enviado pelo Jornalista João Costa: “Apesar das novas tecnologias, o Brasil vai bem, mas, o que lasca é a trilha sonora que ficou um lixo. Em João Pessoa criminalizaram o rádio, que fora disso, resta um bombardeio político, o resto fica por conta de uma trilha sonora pobre. Não ponho a culpa em quem faz a programação – o Brasil é que ficou paupérrimo de música”.

Na Festa do Rosário em Pombal nós temos a música brega como referencial da Rejeitada.

Fonte: Clemildo Brunet






A IGREJA DO ROSÁRIO DE POMBAL E O SINCRETISMO RELIGIOSO

O marco do triunfo dos europeus e das idéias que traziam o signo da Cruz, quando da colonização brasileira, era a construção de igrejas católicas. A partir da edificação de inúmeros templos, surgiram diversos aldeamentos na região nordeste, bem como em diversos lugares espalhados pelo Brasil.

Em Pombal, Estado da Paraíba, o testemunho dessa fase ainda se conserva através de relíquia histórica representada pela igreja do Rosário. A construção, em estilo barroco, se concretizou em devida promessa feita pelos conquistadores a Nossa Senhora do Bonsucesso quando das fulminantes e mortíferas investidas dos indígenas, precursoras do estilo de guerrilha que caracterizou dos salteadores das caatingas, principalmente durante o século XIX e boa parte deste passado. O “sucesso” foi pleno, registrando-se episódios surreais de pura perversidade contra povos indígenas.

Inicialmente, a capela onde os colonizadores agradeciam o “sucesso” do massacre, era uma tosca choupana erigida por aventureiros a serviço da famosa Casa da Torre. O genocídio da brava tribo Pegas, bem como de inúmeras outras nações indígenas, verdadeiras donas da terra, se completava, afastando dessa forma a ameaça dos sucessivos e surpreendentes ataques aos colonizadores, e, também, talvez principalmente, aos rebanhos de gado, razão econômica da expansão territorial pelo sertão enfatizada pelos lusitanos em sua colônia nas Américas.

Em 1721, quando a guerra dos “bárbaros” já integrava a memória dos antigos colonizadores, embora ainda incompleta, a estrutura primitiva da tosca capelinha cedeu lugar a uma perfeita obra de arte, com sinuosos traços arquitetônicos que se vinculavam ao estilo vigente quando de sua construção. Ainda sobreviviam, nessa época, tribos dispersas e acuadas, devido à desvantagem da defesa e do ataque patrocinada pelas armas que dispunham. Resistiram poucos remanescentes das heróicas contendas que marcaram os sangrentos embates que envolveram índios e brancos quando das violentas pelejas que obstacularam tenazmente, durante dez anos, o avanço das bandeiras colonizatórias.

A mão de obra utilizada na construção da atual igreja do Rosário de Pombal envolveu índios subjugados, escravos compulsoriamente inseridos na arriscada empreitada gerida pelos poderosos prepostos do famoso império localizado na Bahia. Possivelmente, trabalhadores livres também participaram da efetivação do marco da colonização portuguesa, país católico por excelência, abrigou, durante longos séculos, da nefasta e criminosa instituição da inquisição. O pedreiro responsável pela obra de arte se chamava Simão Barbosa. Com certeza era um homem livre, embora inserido em plano inferior dentro da hierarquia da orgulhosa elite privilegiada da sociedade sertaneja agropastoril, a qual estava firmada sobre o reflexo da estrutura social consolidada no litoral açucareiro.

Até o final do século XIX os cultos católicos, direcionados a Nossa Senhora do Bonsucesso, foram realizados na velha igreja em estilo barroco. Com a construção de novo templo, concluído no início da década de noventa da referida centúria, o recanto de oração dos cristãos da terra de Maringá à sua padroeira, passou a se realizar na matriz inaugurada para receber a devoção dos fiéis. Originalmente arquitetada com apenas uma torre, somente no final da década de cinqüenta do século XX foi construída outra.

A igreja do Rosário só passou a ser conhecida assim depois que mítico negro de nome Manoel Cachoeira conseguiu convencer o Bispo de Olinda a oficializar a festa em que se observa nítida vinculação com manifestações religiosas impostas pelo colonizador aos escravos que penavam no famigerado cativeiro, o qual deixou marcas indeléveis. A mão-de-obra massacrada no trabalho estafante em canaviais, minas, etc., elo importantes dentro da plantation, cuja característica era englobar, além da escravidão, o latifúndio e a monocultura, sofre humilhantemente, ainda hoje, com a permanência aviltante do legado maior do escravismo: O preconceito e a exclusão. Esse sistema imposto pela metrópole portuguesa assegurou o enriquecimento de alguns portugueses e de muitos holandeses que comercializavam o açúcar brasileiro até a crise sucessória em Portugal, a qual definiu a união ibérica.

Reza a tradição que o fundador da festa do Rosário de Pombal fez três viagens a Pernambuco, até alcançar o seu objetivo. Com certeza, houve contato de Manoel Cachoeira com o folclore negro, extremamente rico nas plagas que palmilhou, principalmente no que tange às manifestações culturais personificadas no Reisado, nos Congos e na própria irmandade do Rosário, incorporados ao evento religioso, denotando formas de resistência cultural. O ritual dos Congos é um dos mais significativos, remontando à ênfase ao respeito de súditos à nobreza de tribos africanas.

Três culturas se fundem no ensejo da adoração ao Rosário. Inúmeras tribos islamizadas foram trazidas da África para o Brasil, permanecendo traços culturais destas em razão da presença do Tecebá, o Rosário islâmico, entre os dedos da imagem de Nossa Senhora. Notar que o culto se destina mais precisamente ao Rosário, símbolo da resistência dos descendentes dos filhos de Alá. Em seguida, enquanto signo da imposição do colonizador católico, encontra-se a presença do cristianismo, com Nossa Senhora coadjuvando a expressão de Fé, e, finalizando com as evidentes marcas da louvação que denotam a influência da cultura negra, considerada pagã pela igreja Católica, de certa forma, em diversos momentos.

No início da década de sessenta do século passado, Padre Acácio Rolim se negou a realizar a festa do Rosário. A resposta da sólida cultura de Pombal se deu quando o povo, não se importando com nada, lotou a cidade e realizou sozinho o evento religioso. O sacerdote de nobre família cajazeirense se horrorizava com o espetáculo alegre e festivo promovido pela irmandade do Rosário, o qual ele considerava profano e herético.

Alicerçado em indisfarçável racismo, este sacerdote considerava profana a manifestação negra ao Rosário, desestimulando-a enquanto pôde. Depois da era Padre Sólon, quando houve efetiva articulação de novos rumos da liturgia católica no município de Pombal, a festa do Rosário passou a ser enfatizada de forma exponencial, sobrepujando a tradição antes existente, referente à devoção à padroeira.

A igreja do Rosário, patrimônio importante da História do semi-árido, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba, guarda, com certeza, segredos nunca descobertos. Séculos de História a fez referência à inúmeras gerações.

Sua preservação é definida por lei. Nada pode atentar contra sua integridade estrutural, pelo menos em tese. Na prática, foram registrados verdadeiros atos de vandalismo contra a estrutura que guarda um pedaço da História pombalense. Várias preciosidades foram destruídas enquanto produto da insensatez daqueles que não enxerga a importância que o velho templo em estilo barroco tem para a compreensão do processo que gerou a espacialização deste núcleo da expansão metropolitana em direção ao desconhecido sertão de índios bravios.

A igreja do Rosário de Pombal é uma das maiores riquezas que a terra de Maringá possui, na verdade patrimônio da humanidade em virtude que o legado de gerações pretéritas é um bem coletivo que suscita conscientização acerca do papel que todos devemos desempenhar na busca incessante pela preservação dos nossos testemunhos Históricos, e, conseqüentemente, de nossa cultura e, mais ainda, de nossa identidade, vilipendiada cotidianamente.


Fonte: José Romero Araújo Cardoso






BEM-VINDOS A FESTA DO ROSÁRIO!

Estamos em plena Festa do Rosário, a cidade de Pombal é transformada no centro das atenções, recebendo inúmeros visitantes, que chegam até aqui para mais uma vez prestigiar este evento sócio-religioso, reunindo dos mais diversos pontos do Brasil, filhos desta terra e até estrangeiros que eventualmente nos visitam, pois este evento está incluído no calendário turístico do País.

Somos uma cidade hospitaleira e sabemos receber muito bem aqueles que chegam até aqui. É preciso que haja esforço de cada nativo, para que não fique só naquela de dar as boas vindas, mas também, oferecer a quem nos visita a chance de conhecer a riqueza histórica e cultural que tem o nosso Pombal.

A cidade fica na região zona fisiográfica do baixo sertão das piranhas, na fachada ocidental do Estado da Paraíba, integrando a micro-região 95- depressão do Alto Piranhas, está à margem direita do rio piancó e foi no século passado uma vila muito próspera. Seu território é constituído de várzeas e tabuleiros favorecendo em muito a criação de gado.

A Igreja do Rosário de Pombal, é uma das mais autênticas no estilo barroco. Inicialmente era muito simples, de “taipa e madeira”, onde os ofícios religiosos eram realizados por um franciscano da ordem de Santo Antonio. Essa primeira construção não passava de uma capela de tipo rural, de pequenas dimensões e, dela, nada mais resta. Mas a Igreja do Rosário que foi a primitiva matriz do Bom Sucesso, hoje denominada Igreja do Rosário é conservada pela irmandade do mesmo nome.

A tradicional Festa do Rosário consegue reunir famílias inteiras que se encontram espalhadas por este Brasil e sua marca maior, é denominada de Festa do encontro dos filhos de Pombal, essa é a sua décima sexta versão. Há cerca de três anos um grupo formado por filhos dessa terra, resolveu homenagear personalidades tiradas do meio popular e que tenha relevante folha de serviço prestada a nossa gente.

Em 2005 o Homenageado foi o Professor Arlindo Ugulino, grande educador e considerado patrimônio Cultural no nosso meio, exerceu atividade de Diretor do Colégio Estadual “Arruda Câmara” desde a sua fundação e durante dez anos consecutivos, além de lecionar várias disciplinas. Ex- Promotor Público, hoje aposentado, Ex-Superintendente de Polícia Civil, não esquecendo de mencionar que foi também Diretor adjunto aos Cônegos Vicente Freitas e Luiz Gualberto (ambos de saudosa memória) nos anos remotos do Colégio Diocesano de Pombal.

Em 2006, o Encontro dos Filhos de Pombal, fez uma homenagem ao discófilo, colecionador de discos vinis, e ex-proprietário do Cine Lux de nossa cidade, Galdino Mouta.

Este ano a homenagem vai para o conhecidíssimo José Enfermeiro, que durante várias décadas prestou serviço a nossa comunidade, desde a fundação do Hospital e Maternidade Sinhá Carneiro nos anos 50.

A Décima Sexta Festa do Encontro dos filhos de Pombal, será no próximo sábado, dia 06 de outubro, com inicio previsto para ás 14 horas, nas proximidades do Bar Centenário no centro de Pombal, e terá como atração musical este ano, Max e Banda Estrelar, Marcus Vinicius e Banda ambas de Caicó- Rio Grande do Norte, como também, a Cantora pombalense Anay Claro, que estará fazendo o lançamento do seu primeiro CD e ainda a participação do nosso cancioneiro popular José de Arimatéia (Dr. Teinha).

Nesta festa do encontro dos filhos de Pombal, se estabelece a renovação das amizades antigas, registrando-se um elo ente o passado e o presente, é um verdadeiro congraçamento, ouvindo música e uma boa conversa, como também a oportunidade de conhecer e fazer novas amizades até mesmo com aqueles que nos visitam pela primeira vez.

Sejam bem-vindos a Festa do Rosário de Pombal, este ano teve inicio no dia 27 de setembro e se estenderá até o próximo domingo dia 07 de outubro; a nossa terra está localizada no cruzamento das BR-230 e 427, que marcam o ponto de convergência entre os Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.

Sejam Bem-vindos, as nossas ruas, praças, avenidas, pois o colorido de suas paisagens é capaz de atrair o visitante e o turista, pela oferta diferenciada e qualificada neste cenário maravilhoso.

Aqui há uma esperança, que em breve, será implantado o referencial de modelo de “Cidade Turística” com o resgate de seu patrimônio histórico e Cultural.

Parabéns terra de Maringá por mais uma Festa do Rosário- o ponto central de encontro dos amigos e familiares.

Fonte: Clemildo Brunet






A IRMANDADE DO ROSÁRIO: DE CHICO REI A MANOEL CACHOEIRA, A LUTA PELA AUTO-AFIRMAÇÃO DE UMA RAÇA

A irmandade de Nossa Senhora do Rosário surgiu na Europa em 1408, sendo que em 1493, através dos portugueses e dominicanos chega ao Congo, quando o catolicismo passa a ser a religião oficial daquele reino. Com a intensificação do tráfico de escravos para o Brasil, em 1552 a irmandade chega em Pernambuco. Em 1711, em Cachoeira do Campo (Distrito de Ouro Preto), é registrada a primeira presença da irmandade em Minas Gerais.

A mais importante aparição dessa confraria negra aconteceu na cidade mineira de Vila Rica, também em Minas Gerais, iniciada quando um escravo, com suas economias obtidas no trabalho aos domingos e dias santos, conseguiu comprar a alforria do seu filho. Posteriormente, ele obteve a própria alforria e a dos demais súditos de sua nação que lhe apelidaram de Chico-Rei. Unidos a ele, pelos laços de submissão, gratidão e solidariedade, adquiriram a riquíssima mina da Escandideira. Precisamente no dia 6 de janeiro de 1747, data em que o calendário católico comemora o Dia de Reis, Vila Rica foi surpreendida com uma festa que desconhecia. Chico Rei e seus patrícios alforriados apareceram na capela de Nossa Senhora do Rosário com uma indumentária surpreendente. Dançaram o Congado, dança criada por Chico que tornou-se popular em Vila Rica e em todos os lugares onde se fazia a Festa de Reis. Neste dia, Chico Rei foi coroado Rei da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos. O rei do Congo que um dia fora raptado para ser escravo em terras estranhas, fez valer o dito popular que garante que quem é rei nunca perde a majestade.

A partir da incursão de Chico Rei na irmandade do Rosário, a confraria ganha um cunho mais político do que religioso, tornando-se a primeira entidade abolicionista do Brasil, então colônia de Portugal. Em suas reuniões reservadas, a Irmandade tratava de assuntos proibidos pelos brancos, principalmente no que tange às suas reivindicações pela igualdade e justiça, traçando planos pela luta em busca da conquista da liberdade.

A nova face da Irmandade desperta a antipatia das oligarquias, forçando setores da Igreja Católica a exercer todo o seu poder de coerção para a proibição de práticas estranhas aos ditames sacramentais. Nas celebrações das tradicionais Festas do Rosário, (chamadas de “oragas”, que significa padroeira), é inegável a presença de imagens e ritos profanos, destaque para a música, dança, comilança e consumo de bebidas alcoólicas. Na verdade, a festa era momento único para os negros sentirem o sabor da liberdade, transgredindo normas e preceitos difundidos pelo Estado e pela Igreja Católica. Enquanto a Igreja pregava a libertação da alma, a irmandade estava mais preocupada em romper os grilhões que acorrentavam corpos de um povo, considerado inferior pelo simples fato de ter a cor da pele e a cultura diferentes da raça dominante. Portanto, a verdadeira antinomia existente entre a igreja e a irmandade ia muito além da mera heterogeneidade das concepções doutrinárias de ordens espirituais.

A irmandade do Rosário, embrião dos atuais movimentos negros, entrou através da capitania de Pernambuco, ganhou uma nova roupagem nas Minas Geraes, chegando à Salvador, capital colonial, para se alastrar feito festim pelo resto do Brasil, desempenhando papel de vanguarda na arrecadação de fundos para compra de alforrias. Não por acaso, a Festa do Rosário sempre acontecia no mês de outubro, depois das colheitas. O grande encontro de luta de libertação da raça, simbolizada pela Festa do Rosário, significava, além do louvor e agradecimento aos deuses (ou santos, no vocábulo católico) pelo sucesso da safra, também o grande momento de contabilizar o pecúlio arrecadado, com vistas à compra das cartas de alforrias, cujos beneficiários era sorteados durante a “oraga”.

Não se sabe com exatidão quando a irmandade do Rosário chegou em Pombal, entretanto é certo que, graças a obstinação de Manoel Antônio de Maria Cachoeira, que viajou à Olinda por três vezes a pé, a entidade foi oficialmente reconhecida pela Igreja Católica, através de despacho do Bispo D. João Fer¬nandes Tiago Esberardi, em 18 de julho de 1895.

Há tempo que a elite local relutava em não aceitar os ritos africanos na única Igreja da cidade. O jovem padre Valeriano Pereira de Sousa, logo que chegou em 1893 para comandar a paróquia local, resolveu dialogar com as partes, objetivando pôr em execução um projeto idealizado por seus antecessores há mais de 20 anos. O plano consistia em construir uma nova Igreja para os “brancos” e deixar a velha para os “pretos” fazerem o que bem lhe conviessem. Assim, o vigário incentivou o líder negro a buscar o reconhecimento da entidade nas estâncias superior da Igreja Católica, ao tempo em que sensibilizou os fiéis para doação de donativos e dízimos com vistas a conclusão da nova igreja, atingindo o objetivo em 1897, dois anos depois do reconhecimento da irmandade. A nova igreja passa a ser denominada Matriz de Nossa Senhora do Bom Sucesso, e a antiga, fundada em 1721, passa a denominação de Igreja de Nossa Senhora do Rosário, administrada pela Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, sob o auspício do Padre Valeriano.

A partir de então, a irmandade do Rosário, agora contando com o consentimento oficial da Igreja Católica, passou a organizar sua festa, dando ênfase as suas mais remotas expressões culturais, indiferente ao olhar reprovativo das carolas de plantão. A irmandade agora contava com total apoio do “Padim Vigário”, como era carinhosamente chamado o chefe da paróquia local. A participação do “Reisado”, “Congos” e a alegria contagiante dos “Negros dos Pontões”, com suas vestes coloridas e coreografias tribais, eram um espetáculo à parte, principalmente para os fiéis que viam na missa uma monótona penitência semanal para ter direito ao reino do céu.

Ao longo dos seus 52 anos (1893/1945) na direção da Paróquia, monsenhor Valeriano, considerado o mais influente líder religioso da história da terra de Maringá, soube capitalizar todo potencial da Festa do Rosário, em beneficio das finanças da Igreja, transformado-a em principal atividade de arrecadação de sua paróquia. Assim, ano a ano, a Festa do Rosário de Pombal foi atraindo devotos de todos os recantos, desbancando a Festa da Padroeira, Nossa Senhora do Bom Sucesso, e se transformar no principal evento religioso do interior paraibano.

Graças a atuação da Irmandade, Pombal é um raro caso no sertão nordestino onde a devoção à Nossa Senhora do Rosário se fez presente, já que isso aconteceu com mais assiduidade na região da mata e no litoral, onde prevalecia a monocultura da cana-de-açúcar que absorvia um grande número de trabalhadores escravos. É verdade que algumas cidades sertanejas também criaram suas festas do rosário, mas é bom esclarecer que a grande maioria foi influenciada pela festa de Pombal e por iniciativa da Igreja local, que via no evento uma lucrativa forma de arrecadar donativos dos fiéis, a exemplo de Caicó (RN), Santa Luzia (PB) e Paulista.

Passaram-se exatos duzentos e sessenta anos desde a entrada triunfal de Chico Rei em Vila Rica e mais de um século da coroação de Manoel Cachoeira em Pombal, não há como negar que houve avanços significativos na luta pela auto-afirmação da raça negra, evidenciados principalmente na forte presença de elementos culturais na formação do povo brasileiro, seja na religião, música, dança, culinário, idioma. Porém, mesmo com a assinatura da Lei Áurea em 1888, em termos humanitários o estigma da escravidão permanece enraizada em forma de preconceito contra os afro-descendentes, porquanto a grande maioria é submetida a extrema condição de pobreza e imobilidade social, com menor escolaridade, salários mais baixos, é impelida a viver em condições precárias, em locais violentos e insalubres, sem a necessária assistência do Estado.

Fonte: José Tavares de Araújo Neto (Bokinha)






NOSSA SENHORA DO BOM SUCESSO X NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

Desde sua fundação, em 27 de julho de 1698, com o nome de Arraial de Nossa Senhora do Bom Sucesso do Piancó, que Pombal tem como padroeira Nossa Senhora do Bom Sucesso. No entanto, em detrimento da escolha do vaticano, é público e notório a devoção que a população tem por Nossa Senhora do Rosário, mesmo que Igreja Católica garanta quem em ambos os caso tratar-se de uma santa só: Maria, mãe de Jesus. Da mesma forma, apesar da imponência e suntuosidade da Igreja Nossa Senhora do Bom Sucesso, a população de pombal não esconde a predileção pela Igreja do Rosário, a ponto de em recente pesquisa ser escolhida como o cartão postal que melhor representa a cidade. Também é oportuno registrar que, dentre as duas, recentemente experientes cineastas europeus, da BBC de Londres, escolheram o interior da Igreja do Rosário para servir de cenário para a gravação de um cliper dos cantores paraibanos Chico Cesar e Aleijadinho de Pombal para a BBC de Londres, que será lançado oficialmente no final do ano na Inglaterra.

Fonte: Jose Tavares de Araujo Neto






Festa do Rosário: tradição de um povo

Oficializada somente no final do século XIX, a festa do Rosário de Pombal se constitui em breve retrato da mistura que imperamos entender por que tantos descendentes dos colonizadores se prostram em devoção ao Rosário dos negros da Irmandade? Negros e índios não se irmanam no mesmo sofrimento na mentira dos 500 anos de descobrimento do Brasil?

Que povo é este nesta sociedade tão racista? É o negro! Àquele que deu sangue, suor e lágrimas para fazer a opulência dos grandes ‘coronéis’ do algodão, que hoje ainda é o primeiro suspeito quando se rouba uma galinha para saciar a fome de algum quintal mais abastado.

Juro como não entendo as contradições do ideário social. Genuflexos em devoção ao Rosário, símbolo maior da cultura negra em nosso País, quando do ponto de vista étnico-cultural denota-se a presença de três religiões de povos distintos que influenciaram diretamente a nossa formação humana e sócio-econômica.

Festa de tradição na área mesopotâmica da bacia do Piranhas, fascina pobres e ricos, anônimos e famosos, brancos, negros e mestiços. Ruy, o eterno político do povo, com seu estilo impecável que o aproximava das multidões, era um desses devotos. O saudoso inspirador de nossa canção maior, com certeza se orgulharia da resistência imposta pelos grupos folclóricos e pelo povo de Pombal no que diz respeito à permanência de nossa mais interessante tradição, principalmente quando do seu centenário de poucos ecos em seu torrão natal.

Não se sabe ao certo se antes das famosas viagens do fundador da irmandade do Rosário à Olinda, de cuja homenagem se resume a simples nome de rua em Pombal, realizava-se a festa do Rosário. A memória dos que estão na eternidade talvez pouco possa responder à indagação. A História oral não está sendo plenamente concretizada quanto ao repasse de informações. Esta geração, com certeza, não sabe responder às dúvidas claramente. A certeza está na instituição de uma liturgia sincrética que fez esquecer até mesmo a devoção católica do município à sua verdadeira padroeira, cujas comemorações no mês de setembro quase coincidem com a louvação ao Rosário.

A festa de Pombal é a do Rosário. As manifestações folclóricas riquíssimas, onde as culturas negra, árabe e cristã se fundem, dão toque especial ao que ocorre na cidade sertaneja. É algo sui generis, talvez com poucos registros, em vista que poucos padroeiros perderam o status em função de uma devoção negra no Brasil. Terra do algodão em eras pretéritas, o ouro branco do sertão fez com que levas de escravos se destinassem à cotonicultura. Mesmo quando da organização espacial da hinterland com a pecuária a mão-de-obra negra já era enfatizada.

A famosa Guerra dos Bárbaros, bem descrita por A. Taunay, que levou milhares de indígenas ao extermínio, também atingiu Pombal, explicando talvez a preponderância negra na miscigenação. Poucos silvícolas escaparam da fúria sanguinária dos colonizadores, cujo poder de destruição também foi imitado no Ceará e Rio Grande do Norte. Neste último, a chacina foi bem maior.

Remorso? Talvez. Quem sabe? Muitos defendem que o atavismo psicológico atravessa gerações. Dessa forma, quem sabe não poderíaombal e da religião de um povo, ao mesmo tempo ridicularizam a maior heroína pombalense quando viva por causa da cor de sua pele. Dessa forma só posso concordar com Jerdivan Araújo. É muito estranho, estranho mesmo.

Duas dimensões, a corológica e a cronológica, se unem desde épocas imemoriais definindo as emoções do povo de Pombal em função da festa do Rosário, quando encontros se fazem e os que deixaram saudades são lembrados. Nunca consegui esquecer a de 1976, quando quem me levava aos parques de diversão não podia estar conosco. 25 anos passados e aquela festa fatídica não sai de minha memória, como uma mácula perpétua a atormentar os meus dias.

Mas, é assim mesmo, é a vida. A tradição se renova, se completa ou se subtrai a cada ano. Com certeza a marginalização em que vive a maioria dos membros dos grupos folclóricos da festa do Rosário de Pombal pode explicar a razão dos Congos, com seus enfeites exuberantes, não poderem sair todos os anos. Onde estão as promessas de geração de renda para este povo? Promessas, promessas, promessas. A economia se mundializa, mas a pobreza se acentua. Não é diferente em Pombal. A cidade está, de uma forma ou de outra, integrada à proposta de globalização tão cara ao neoliberalismo.

Pombal, berço da heróica tribo Pegas, terra natal de Ruy Carneiro, um dos maiores tribunos desta nação, esquecido pelas gerações que hoje imperam, nunca deixe morrer a tradição de um povo, nunca esqueça a devoção ao Rosário, pois nada mais valioso para uma gente que a preservação de sua identidade e nossa identidade, com certeza, tem tangência com a festa dos negrinhos do Rosário.

Fonte: José Romero Cardoso






A FESTA DO ROSÁRIO DE POMBAL I

Pombal, a terra de Maringá, Arruda Câmara, Ruy Carneiro, Celso Furtado, mais antigo núcleo de povoamento do sertão Paraibano, edificada a 400 quilômetros da Capital, João Pessoa, na confluência dos rios Piancó e Piranhas, tem como acontecimento maior do seu folclore a Festa dos Negros do Rosário, comemorada há mais de cem anos — há documentos que registram ser 1895, a data em que a Igreja reconheceu a festa de Nossa Senhora do Rosário como sendo um evento religioso, despachando sua ereção canônica, o que foi deferido pelo Bispo de Olinda Dom João Fernando Thiago Esberaldi.


De acordo com a tradição oral, teria sido Manuel Cachoeira o fundador da Irmandade, que deu origem a Festa do Rosário de Pombal. Os antigos contam que ele viajou, por três vezes, a pé, de Pombal a Olinda para conseguir o tão desejado reconhecimento da Irmandade do Rosário, da parte do Bispo daquela cidade. A história deste negro se perdeu no tempo, no entanto, seu feito já perdura por mais de um século.


Em todo o Brasil as festas de Nossa Senhora do Rosário são comemoradas no mês de outubro. A de Pombal comera-se no primeiro domingo desse mesmo mês, sendo que o seu inicio se dá nove dias antes, com o mastreamento da bandeira da irmandade, e coroação da Rainha do Rosário.


Para que não se confundam, Nossa Senhora do Rosário é a padroeira dos Negros e não da cidade, que é Nossa Senhora do Bonsucesso. E comera-se no mês de setembro.


História e religião à parte, a Festa do Rosário de Pombal, com sua grandiosidade, representa para o nosso povo, pobres e ricos, o congraçamento dos filhos da cidade que, nesta data, voltam à velha terra de Maringá, para rever amigos e ter noticias de as quantas andam a sua terra natal. Conta-se que o senador Ruy Carneiro, mesmo no auge dos seus afazeres políticos e administrativos, jamais agendava um compromisso para o primeiro domingo de outubro, que não fosse a Festa do Rosário.


Antes como hoje, a cidade se enfeita de barracas de palhas onde bêbadas, matutos e visitantes se empanturram de cachaça e farofa. Estas barracas parecem paradas no tempo, como se fossem as mesmas, assim como ainda é o mesmo Parque Maia que, há mais de quarenta anos, visita a cidade nesta data. É ele o responsável pela diversão dos moleques, com seus artefatos como: Carrossel, Canoas, Roda gigante e outros brinquedos mais modernos e sofisticados.

A modernidade sempre trás o novo, que às vezes convive ou se contrapõe ao velho e ao tradicional. Se nas barracas de palhas das festas passadas, era Pedro Onça quem animava os bêbados, com seu fole de oito baixos, hoje são as grandes bandas, como Mastruz com Leite, Alegria, Metrópole e outras que, num grande palco armado em praça publica, vão fazer a parte profana da Festa do Rosário.


No Pombal Ideal Clube, AABB e BNB, cantores como José Orlando, Alípio Martins e outros, estarão de “corpo presente”, animando velhos e jovens, com suas musicas bregas.


Durante a Festa do Rosário a cidade de Pombal se transforma numa grande Las Vegas, onde jogos de azar são bancados ao ar livre. Laça - laça, Bingos, Dados, Baralhos e tantos outros, proibidos pela hipocrisia dos políticos e que ali fazem a diversão do povo sertanejo.

— Quem nunca apostou na “Trinta e Seis” de seu Mané Paletó?
O momento alto das comemorações é à saída da procissão, da igreja para a Rua Manuel Cachoeiro, para buscar o Rosário para a celebração da Missa, que dar por terminada mais uma magnífica festa, da qual os filhos de Pombal falam com orgulho.

Enquanto a procissão segue se arrastando feito cobra pelas ruas quentes de Pombal, o anfitrião mor da festa, Professor Arlindo Ugulino, vai pronunciando, um a um, os nomes dos filhos de Pombal que não deixaram de vir prestigiar mais uma comemoração da sua mãe negra.

O discurso do ex promotor e professor aposentado já faz parte da festa, e todos se aglomeram a partir das sete horas da manhã, aos primeiros chamamentos do velho Bronze da bicentenária Igreja do Rosário, para abraçar os amigos, ao chamamento nostálgico do professor.

— Este ano — diz o obstinado anfitrião – temos as presenças de Dr. Thiago, Ilustre filho da cidade. Vejo daqui o Dr, Plínio e Dr. Queiroga, dois grandes conhecedores das letras jurídicas que muito orgulha o nosso Povo. Epitácio Queiroga não está entre nós: rezemos pela sua alma. Otacílio Trajano não podia falta: o vejo daqui a prosear com João Costa e Inácio de Lourdes. Gandhi não veio, rezemos pela sua alma.

Enquanto professor Arlindo pronuncia os nomes dos filhos de Pombal, a procissão caminha seguida por pagadores e pagadoras de promessas, ao espocar da queima foguetória e cantos litúrgicos, na missa celebrada por padre Sólon de França.


Abrindo alas por entre a multidão, num espetáculo para turista vê, os três grupos folclóricos: Congos, Negros dos Pontões e Reisados, fazem suas coreografias.
Esta será a última Festa do Rosário do milênio. Certamente isto dará uma magnitude toda especial, a este acontecimento, que venceu as intempéries da vida seca e dura do povo sertanejo; atravessou o século, chegando ao terceiro milênio, com o mesmo romantismo e charme intuído na persistência e religiosidade de seu Manuel Cachoeira.

Eu convido todos os filhos da terra e também os turistas, para verem os Congos, o Reisado e Os Negros dos Pontões dançando no meio da multidão; escutar o discurso emocionante de Professor Arlindo Ugulino; acompanhar a Procissão do Rosário, de carona na fé do nosso povo que, pés descalços no chão quente, pedras ou coroas de espinhos na cabeça, pagam as graças alcançadas, expressando a religiosidade do povo sertanejo.


Depois, perdoado os pecados, é sempre bom renová-los nas barracas de palha, ao som de musicas bregas para em seguida, já cansados de tanta emoção, afogar a ressaca nas águas sagradas e transparentes do velho rio Piancó. Este mesmo rio, onde os doutores nascidos na cidade de Pombal foram moleques e, com toda certeza, têm saudades e desejam, nem que seja numa Festa do Rosário, voltar a correr naquelas ruas quentes onde a nossa infância é vento a espanar os cabelos de nós moleques, da cidade de Pombal.

Fonte: Jerdivan Nóbrega de Araújo






A FESTA DO ROSÁRIO DE POMBAL II

As cidades do interior, em meio ao desaparecimento da agropecuária, estão descobrindo nas chamadas “festas do interior” a saída para a crise. Nestes tempos bicudos, os administradores municipais precisam de muita criatividade para fazer o dinheiro entrar nestas pequenas cidades, fazendo funcionar o comercio que por sua vez gera empregos, divulga a cidade e quebra o estigma de que o povo sertanejo sobrevive apenas do emprego público.

Nesta luta para trazer turistas que gastam dinheiro, que por sua vez é a roda principal do desenvolvimento, as cidades estão redescobrindo as suas festas e monumentos tradicionais: Campina Grande com o maior forró do mundo e o carnaval fora de época; Guarabira com a Festa da Luz; Santa Luzia com o tradicional São João; Cajazeiras com o forrofest; Pilar com o tamarineiro de Augusto dos Anjos, Sousa com o vale dos dinossauros e Pombal com... Pombal? Pombal não tem atração para turistas. Apenas a Festa dos Negros do Rosário que é o primeiro encontro folclórico da Paraíba e umas das mais tradicionais festas de Irmandade de Negros do Rosário do Nordeste do Brasil. Algo que, para seus administradores nunca teve nenhum valor.

Os Negros dos Pontões, que já chamou a atenção de pesquisadores de toda parte do país por só existir em Pombal; a realeza dos Congos e do Reisado que nas suas coreografias nos levam de volta as nossas raízes negras, e, no entanto são marginalizados, tanto pela população como por administrador de visão curta que a cidade tem tido a sorte de carregar nas costas.

Não são “negrinhos” dançando: é cultura da mais rica originalidade e deveria ter seu reconhecimento como arte e cultura, senhores vereadores.

A Festa do Rosário, apesar de seus mais de cem anos de tradição, é realizada de forma amadora, sem divulgação, sem estrutura e sem apoio da imprensa televisada ou escrita. A culpa não deve, no entanto, ser creditada apenas aos administradores públicos. Os comerciantes da cidade precisam também entender que o turismo não é uma simples visitação de pessoas esquisitas a nossa cidade. O turismo senhores do Clube de Diretores Lojistas de Pombal, e a indústria do terceiro milênio e vocês devem cobrar isto.

Se vocês trocarem a pinga que dão aos nossos Negros dos Pontões, Congos e Reisados, por apoio, o retorno virá em forma de lucro. Não adianta dizer que é bonito, e aplaudi-los no final de cada apresentação, quando estes artistas do povo são marginalizados, não têm dinheiro para comprar suas vestimentas, vivem de esmolas e aceitam a sua cachaça apenas por que a cultura do povo ainda é esta.

É preciso recriar a casa da cultura, senhor prefeito, mostrar a esta gente o seu valor, e levar suas apresentações para as escolas primárias para que as crianças conheçam os valores da cidade, pois muitos daqui sabem o que é o Boi Garantido de Parintins, mas, não conhecem os grupos folclóricos locais; é preciso tornar estes três grupos embaixadores da nossa cidade levando-os a se apresentarem em outras localidades para que nossa imagem seja revertida em favor também da cultura e não sejamos apenas a cidades onde se matam funcionários públicos no cumprimento do seu trabalho

Não são os negrinhos do rosário como a cidade costuma chamá-los. São artistas, cada um com uma história para contar em forma de dança. A Festa do Rosário ainda vai ser em outubro. Daqui para lá ainda têm mais de quatro meses. Vamos acabar com o amadorismo e fazer desta festa uma forma de redenção da nossa cidade a Olinda a pé por três vezes só para conseguir a autorização do bispo para a fundação da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário.

A Festa do Rosário de Pombal é algo que precisa ser visto com olhos de turista, como bem lembrou Tarcísio Pereira.

Fonte: Jerdivan Nóbrega de Araújo






FESTA DO ROSÁRIO E O PARQUE MAIA: SONHO DE TODO MENINO DE POMBAL – PARTE II

O aparelho doméstico dos sonhos de todo morador da Rua de Baixo, nos idos dos anos sessenta era o Rádio. De forma que este desejado aparelho era tratado com as merecidas honras, ocupando na sala um lugar de destaque.

O da nossa casa era um “ABC Canarinho, a Voz de Ouro”, em baquelite , na cor verde claro, que tinha até “roupa” para protegê-lo da poeira. Lembro-me que o nosso rádio “vestia” uma capa feita em tecido branco. Na parte frontal haviam bordados, caprichosamente feitos a mão, onde se lia o nome “Rádio” e mais a frente um Canário Amarelo a cantarolar em um galho. Do seu bico saiam notas musicais para que não houvesse dúvida da marca, uma vez que o ABC era ponta de linha, funcionava a pilha e só era vendido nas Casas Bandeiras. As Loja Paulistas vendiam o Philco que era grande e só funcionava a energia.

Logo pela manhã Diasa, pai dos Radialistas Otarcilio e Zé Hilton Trajano, passava de casa em casa, onde já era freguesia certa, anotando o Bicho que viria correr ás Quatorze horas e quarenta minutos, hora esta em que todos os rádios da Rua de Baixo estavam sintonizados na Rádio Alto Piranhas de Cajazeiras. O locutor “cantava” em código o resultado do Bicho do dia: “M de maria, A de Antônio, C de Carlos... e por ai vai. Só os mais letrados tinham o código anotado em cadernos, assim, descifravam o resultado final.

Era comum logo pela manhã os amantes do Jogo de Bicho que passavam para tomar cachaça nas sombras das ingazeiras do Rio Piancó, anunciarem aos gritos os seus sonhos, fazendo previsões de resultados.

Numa desta feita, Biró de Onofre gritou para seu Godô: “Hoje é Pavão nem que a vaca voe.” Ao final daquela tarde Diasa passou na casa de Godô e entregou para ele um pacote de dinheiro. Naquela época não havia risco de sair nas ruas contando dinheiro. Diasa ou Clóvis, outro anotador de Bicho, fazia questão de paga em domicilio aos felizardos acertadores do Bicho, assim ainda caia-lhe uma gorjeta.

No mês seguinte eu recebi a minha moeda de Jovem Assis e pedi ao meu pai que apostasse no Pavão. A intensão era multiplicar o meu presente e assim brincar mais nos parques da Festa do Rosário. Meu pai não gostou da idéia. Segundo ele, jogo era coisa de gente grande e eu não tinha nada que andar por ai apostando. Naquela tarde Diasa foi até a nossa casa e entregou um pacote de dinheiro nas mãos do meu pai. Acho que deu vaca. Eu teria brincado as sete noites no Parque Maia, pensei! Ou será que deu Pavão?

Vida ruim de menino pobre, já com doze anos, viciado nas Matinês de Tarzan do Cine Lux e nos brinquedos da Festa do Rosário que aproximava-se. O sonho de rodar no Carrossel de luzes coloridas, de me arriscar na “montanha russa” que veio pela primeira vez à Pombal ou de jogar uma moeda entre as pernas da boneca "Terezão", e ouvi-la cantar "Baile da Gabriela" e "Como tem Zé na Paraíba"; acertar um tiro no umbigo do Pelé para fazê-lo chutar a bola e assim ganhar um prêmio...tanta coisa a fazer!

Pedi ao meu pai que fizesse um carrinho de mão para eu pegar feira. A incumbência de fazer ficou por conta de mestre Lauro, que era Carpinteiro e tinha uma marcenaria no prédio que foi do meu avô, vizinho ao Edifício Maringá. A marcenaria também era um lugar dos desocupados jogar conversa fora, enquanto mestre Lauro trabalhava.

Quinha, filho de Zuza Nicácio dono do Armarinho Imperial, local onde realizavam-se, nos anos sessenta, bingos de utilidades doméstica, observava o trabalho de mestre Lauro, quando ele percebeu que estava escrito na caixa que mestre Lauro desmanchava para fazer o carrinho, a seguinte frase – Maçã: made in argentine – Pergentine, 15 unidades -. Ele enfiou a mão no bolso, pegou uma moeda e falou: “Caba de Félix, vá ali no Barraco de Zé de Lau e jogue tudo no Jacaré. Se acertar, a metade é seu para você rodar na Roda Gigante até vomitar.” Olhei para o meu pai, como não houve censura da sua parte, o que não era comum em se tratando de jogo de azar, fiz o mandado.

Naquela mesma tarde meu pai me informou o resultado do bicho. Sai nas carreias, encontrei Quinha no Bazar Imperial, muito bem sentado. Cobrei a minha parte do prêmio, como ele havia prometido na naquela manhã. Ele se negou a dividir o prêmio que, por direito, também era meu e, assim meu sonho Parque Maia acabou mais uma vez.

Naquele ano Jovem Assis não mandou o dinheiro do Parque Maia. Também não mandou nos anos que se seguiram.

Se um dia eu voltar à Pombal eu vou fazer duas coisas: Cobrar de Quinha a minha parte no Jacaré, e depois, se ainda existir o Parque Maia, vou roda na Roda Gigante até vomitar, como disse Quinha de Zuza Nicácio.

Melhor, não. Acho que não tem a mesma graça.

Fonte: Jerdivan Nóbrega de Araújo






Poesia: NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO- FESTA-1966.


Tu és uma Santa Milagrosa,
tem poderes infinitos!
És também muito bondosa
digna dos nossos benditos.

Santa de muito valor,
que tantas graças oferece,
aqueles que com fervor,
sempre elevam a sua prece.

És digna do meu fervor,
pois comprovo até,
aquele grande favor,
que ganhei com muita fé.

Fé em Tua intercessão
ao nosso Criador,
que dá a Sua proteção,
aos que pedem com amor.

Proteges o rico e o pobre,
porque És Mãe em amplidão,
e também o que é nobre
desde que faça a sua oração

Ó Virgem do Rosário,
eu Te peço de coração
colocas no Teu Santuário
aquele que tem devoção.

Fonte: Cessa Lacerda Fernandes






PRECE A NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO.

Minha Nossa Senhora do Rosário,
eu vos peço com fervor,
analise o meu pedido
que faço com todo amor.
Por tudo que eu fiz,
quero agora o vosso favor.

Por minha honestidade
e pelos esforços meus
quero para minha filha
uma vitória, eu não sei qual,
pois encontrei nos amigos
uma bondade sem igual.

Todos eles me diziam:
você é quem vai ganhar,
com isso sentia um reforço,
pra com meu marido trabalhar
e assim, lutando afora
podemos o muito encontrar.

Com humildade, esperei o resultado,
quando zás, surgiu surpresa,
de minha filha ser rainha
e não ser uma princesa.
Então, a minha Santinha,
agradeci com firmeza!

Fonte: Maria do Bom Sucesso de L. Fernandes
Professora, Poetisa e escritora.






PRECE PROFANA À NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

Senhora nossa
Fazeis dela senhora minha
Prometo-vos reverenciá-la
como rainha na casa vossa

Oh, protetora das melaninas
atendeis o meu clamor
desceis deste andor
Careço daquela que me fascina

Unis-nos em singular cerimônia
antes dos sinos matinais
expelirem pelos batentes
os reles penitentes
de outroras bacanais!

Entre congos, pontões e reisados
sóbrios e tontos
mudos e eloqüentes
devassos e descentes
sagrados e profanos
bailaremos abraçados
em coreografia improvisada,
sincrética simbiose dos insanos

Súplica atendida
fim de minha peleja
levo-a da terra ao céu
sobre o sótão de vossa Igreja

E sob os raios da manhã
De alto a baixo
Do pequeno ao grande
Entre um lábio e outro
Deslizarei em vice-versas
meu afã
E ela, bem amada, descobrirá, enfim,
que o amor não está naquela maçã!

Fonte: José Tavares de Araújo Neto






A FESTA DO ROSÁRIO

Movidos pela fé e tradição da grande Festa do Rosário, os filhos e amigos da cidade de Pombal entram no clima máximo das comemorações, alegria dos encontros e amor a terra, a cada primeiro domingo do mês de outubro. A Igreja do Rosário.

No início do seu povoamento foi construída uma pequena igreja, no ano de 1701, chamada de “Casa de Orações”, de material de taipa, não muito resistente. Infelizmente essa primitiva igreja foi complemente demolida. No ano de 1721 é erguida, próxima ao local da primeira, a segunda igreja de Pombal, denominada de Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso, construída pelo pedreiro Simão Barbosa Moreira, o qual foi contratado por seiscentos e cinquenta mil reis, para entregar a construção em um período de três anos. Para tanto, foi criada a Irmandade de Nossa Senhora do Bom Sucesso, cujo presidente, o capitão-mor José Diniz Maciel, foi quem contratou a obra. Sólida, grandiosa para a época, havia no seu interior esculturas de madeiras banhadas a ouro, em um visual de esplendor. Mantendo ainda hoje suas linhas arquitetônicas, em nada lembra a capela de 1701. No ano de 1897, com a inauguração da nova Igreja Matriz, logo batizada de Nossa Senhora do Bom Sucesso, passa a primitiva a ser denominada de Igreja de Nossa Senhora do Rosário, sendo agora sua administração quase que exclusiva de uma Irmandade, a qual é constituída de um juiz, escrivão, tesoureiro, zelador e doze irmãos de mesa. Patrimônio necessitando urgentemente de ser tombado, é hoje a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, uma verdadeira relíquia histórica do primeiro núcleo imperial no sertão da Paraíba.


A FESTA
Com certeza, Manoel Antônio de Maria Cachoeira, foi o fundador da Festa do Rosário, em 1895, e celebrada a cada primeiro domingo do mês de outubro. A verdadeira dimensão de Manoel Cachoeira, hoje, apenas um nome de rua em Pombal, perdeu-se no tempo. Seria talvez um negro liberto, beato (morreu solteiro) que habitava na própria igreja e seu trabalho teria constituído o patrimônio da Irmandade. “Ainda hoje nos arquivos da paróquia de Pombal existem os documentos de compromisso da Irmandade do Rosário, segundo os quais se depreende o despacho conferido pelo Bispo de Olinda-PE, D. João Fernandes Esberardi, ao preto e confrade Manoel Antônio de Maria Cachoeira, que saíra a pé de Pombal até aquela cidade com o fim de receber do prelado olindense, o documento de ereção canônica para criação da referida Irmandade. De acordo com aquele despacho, firmado em 18 de julho de 1895 pelo escrivão de registro da comarca Eclesiástica de Olinda e autorizada pelo mesmo Bispo, ficando instituída a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário de Pombal”. A festa se restringia praticamente ao ato religioso e à tradicional procissão, anualmente, com objetivo de arrecadar mais recursos para manutenção e conservação da velha igreja. O profano; bebidas alcoólicas, parque de diversões, jogos de azar, festas dançantes etc., surgiram com os tempos modernos.


A PROCISSÃO.
No domingo da procissão, que se realiza às 8:00 horas da manhã, saída da casa que constitui patrimônio de Nossa Senhora do Rosário, para a igreja e acompanhada pelo padre da freguesia, a Irmandade abre o cortejo com uma grande cruz azul. Os irmãos vestem a opas azul e branco e seque em dois cordões. Ao centro o Rei e a Rainha conduzem o Rosário, bonito em prata e contas de cristal, seguido de perto pelo Oficiante. À frente da Irmandade os negros dos espontões abrem caminho em meio à grande multidão. Ao final, os congos e a banda de música fecham o cortejo. Depois da caminhada em procissão, ao som de zabumba e pífaro, incalculável multidão de fiéis se concentram para acompanhar a missa campal, em frente à antiga Igreja do Rosário. O povo, a maioria da zona rural, em obediência ao ato solene, permanece ao sol aberto e quente do alto sertão. Os destaques são das pessoas que vão pagar sua graças e promessas alcançadas: são coroas de espinhos e pedras na cabeça, vestimentas de São Francisco, pés descalços no calçamento quente e outros estranhos pagos de sacrifícios prometidos à Virgem Maria. No ato final, o padre coloca o Rosário entre as mãos postas e dá a “Benção do Rosário”, os sinos badalam, a multidão de fiéis, ajoelhadas sobre o calçamento, curva, reza agradecida, alguns choram com a realização. Depois do ato litúrgico, os penitentes colocam as coroas de espinho de mandacaru, pedras e outros sacrifícios ao pé do Cruzeiro da Igreja. Em seguida, políticos e outras pessoas percorrem as barracas fazendo coleta de dinheiro para a festejada Nossa Senhora do Rosário.

OS CONGOS.
No grande dia da Festa do Rosário, acompanham a procissão até a igreja, onde assistem à missa e outras cerimônias religiosas. Depois saem em visita às famílias da cidade, formada em duas alas, com maracás nas mãos, encabeçadas pelo secretário e pelo embaixador, ao centro o “reis”, de paletó e chapéu-de-sol aberto. O chapéu-de-sol sempre fez parte do traje real. Durante o cortejo, os congos nem cantam nem dançam, raramente rufam os maracás. Chegando na residência escolhida para dançar, pedem licença e entram para o terraço ou sala de visita. O dono da casa oferece uma cadeira ao “reis” e em sua observância inicia-se a dança que é bem característica. Depois da exibição,o dono da casa oferece bebidas ou oferendas em dinheiro. Os congos fazem poucas exibições, geralmente quatro, em residências diferentes, depois se retiram para suas casas ou vão aos bares da festa.


OS NEGROS DOS PONTÕES.
Os Pontões exibem-se em dois cordões, o encarnado e o azul. O grupo mora na zona rural, sendo constituído quase todo da mesma família. Na cabeça usam chapéu de palha, enfeitados de fitas coloridas. Trazem lanças (Pontões) terminados em maracás, enfeitados em fitas multicoloridas. Os Pontões usam lanças tanto para abrir caminho na multidão durante a procissão, quanto para fazer exibições na dança e, sobretudo para marcar, com o rufar dos maracás, o ritmo de suas músicas. O acompanhamento é feito por uma banda cabaçal, constituída de tambor, prato, fole e pífano, além dos maracás das lanças. Os Pontões não cantam. No sábado que procede ao domingo da procissão, alguns membros da confraria do Rosário percorrem a feira de rua da cidade angariando donativos que serão destinados à conservação e manutenção da velha igreja. Esses membros da confraria geralmente estão acompanhado dos Negros dos Pontões, os quais dançam e bebem cachaça, e, com suas lanças enfeitadas de fitas coloridas, colocam as lanças, nos ombros ou na cabeça das pessoas, e segue enchendo a feira com músicas do seu regional.

O REISADO.
Dos três grupos folclóricos que se apresentam na Festa do Rosário, certamente, o que mais chama a atenção é o Reisado, devido à diversidade de suas músicas e danças. Os ritmos das músicas e danças são marcados por um violão e pandeiro, um apito, sapateado e o canto ritmado com o conjunto. O Reisado apresenta-se com “reis”, o secretário, o general, o mateus, a burrinha, além dos folgazões. Além dos cantos soltos, também apresenta a parte dramática do festejo, com embaixada e guerra. O entrecho dramático narra o que poderia ser uma revolta na corte do rei, comandada pelo secretário. O mateus é consultado sobre a duração da guerra e verifica as horas em um relógio sem ponteiro. A seqüência é encerrada com uma exaltação cívica à bandeira brasileira.

Fonte: VERNECK ABRANTES DE SOUSA






RECORDAÇÃO DA FESTA DO ROSÁRIO

O objetivo deste trabalho é extravasar sentimentos de recordações de um passado feliz, a minha Infância e Adolescência.

Como mãe e profissional colaboradora da educação e da cultura desta terra que tanto amo, apresento os meus aplausos e agradeço aos dinâmicos historiadores e escritores paraibanos e pombalenses, que já deixaram registrados nas suas ilustradas obras a beleza e a grandeza da história da nossa Igrejinha do Rosário e sua respectiva festa, proporcionando o conhecimento preciso a todos, sobretudo, aos jovens ávidos do saber, para não serem ultrajados por qualquer outro argumento.

Ao Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, meu reconhecimento pelo profícuo desempenho de suas funções em prol da preservação e restauração dos nossos bens culturais que envolvem o interesse e a honra de cultuar a nossa bela história.

Ao escritor Itapuan Bôtto Targino, pelo registro de Tombo do nosso Patrimônio, em sua Obra: “Patrimônio Histórico da PARAÍBA”. 2000 – 2002.

Tive a oportunidade e o prazer de assisti a um documentário em DVD, cerimônia realizada mais ou menos nos anos setenta e cinco, apresentando os principais acontecimentos do sábado do Rosário, sua importante procissão até a Casa do Rosário e o domingo em que após a procissão com participação de uma grande multidão de pessoas, foi celebrada a Missa por Pe. Ábdon Pereira, substituindo Dom Zacarias, emérito bispo da nossa Diocese de Cajazeiras, com participação de outros ministros, a exemplo de Pe. Vicente, Pe. Sólon, Pe. Oriel, que foram pessoas muito respeitadas e estimadas, e, ainda Pe. Martinho, Pe. Levi, Frei Albano.

Aquela multidão de pessoas pagando promessas as mais diversas: pedras e coroas de espinhos na cabeça, uso de vestuários franciscanos e pés descalços, inclusive eu, meu esposo Bibia e três filhos: Júnior, Cimar e Tim, este último, em que o parto foi difícil, quase fatal a minha existência, recorremos a Santinha que logo atendeu aos nossos pedidos, razão de minha devoção maior por Ela, Nossa Senhora do Rosário, crendo nos seus milagres.

Rica e simbólica era a apresentação dos grupos folclóricos, antigamente com muito vigor e beleza de arte. Para nós é importante que seja conservado tudo o que pertencer a esta bela História da nossa igreja, da nossa fé e todas as manifestações envolventes como o nosso rico Folclore que sempre significou e marcou esta grande festa. É lamentável se dizer que, hoje, os componentes destes grupos não se apresentam como antigamente, são desestimulados, não sei, se por falta de incentivo dos poderes competentes ou por insensibilidade de muitos.

Até um grupo de Pontões Mirins coordenado por Valter Luis, negrinho descendente dos antepassados e sobrinho de Seu Elias, o qual poderia ser a continuidade futura, pois era representado por crianças também das simbólicas tradições. Não sei qual o motivo da ausência deste grupo, na festa.

Graças a Deus a nossa Igreja não mudou nada, continua a mesma profissão de fé. Está faltando uma política social e preservadores da cultura que possam realizar o desejo do povo pombalense para a perpetuação desta linda e significativa história fazendo repercutir a nossa a posteridade.

Sabemos que Deus criou o homem não perpetuando a sua vida, mas, deu-lhe inteligência e sabedoria para saber perpetuar as coisas que agradam a si e aos outros. Partindo desta premissa faço o meu apelo para que os poderes competentes promovam meios eficazes a exemplo de projeção de filmes que possam perenizar a nossa linda e simbólica festa do Rosário, proporcionando também a alegria e o prazer as nossas futuras gerações.


Fonte: Maria do Bom Sucesso Lacerda Fernandes. (D. Cessa)